Eurobarómetro. Os jovens e as Eleições Europeias

por Andrea Neves - correspondente da Antena 1 em Bruxelas
Foto: Fabrizio Bensch - Reuters

A caminho das Eleições Europeias, a Comissão Europeia publicou um Eurobarómetro sobre Juventude e Democracia com indicações de que 64 por cento dos jovens afirmam que pretendem votar. No entanto, enquanto 38 por cento indicam que pensam que votar é a ação mais eficaz para fazer ouvir a sua voz, cerca de 19 por cento disseram que não estão interessados em política e 13 por cento que não estão interessados em votar.

Os Tratados da União Europeia não definem uma idade mínima para poder votar. Essa decisão cabe aos Estados-membros e na maioria dos países a lei nacional define que é preciso ter 18 anos para exercer o direito de voto.

Mas há países onde é possível votar com 17 anos (Grécia) e com 16 (Bélgica, Áustria, Alemanha e Malta). E isso vai acontecer também nestas Eleições Europeias.


Mas será que os jovens querem votar?

Mais de seis em cada dez (64 por cento) jovens cidadãos da União Europeia manifestam a intenção de votar nas próximas eleições europeias, enquanto 13 por cento indicam que não vão votar, apesar de serem elegíveis.

Em 24 Estados-membros, a maioria dos inquiridos indica que pretende votar nas próximas eleições europeias, com os números mais elevados a registarem-se em na Roménia (78 por cento) e em Portugal (77 por cento). Portugal é, aliás, o segundo país onde mais jovens admitem ir votar nestas eleições europeias.

Ao todo, cinco por cento dos jovens portugueses sinalizam que não pretendem votar.

A percentagem de jovens que não votam nas próximas eleições europeias porque acreditam que o seu voto não mudará nada varia entre 13 por cento na Chéquia, no Luxemburgo e na Eslováquia até 23 por cento na Alemanha, 24 por cento na Bélgica e 25 por cento na Croácia. Em Portugal, são 16 por cento os jovens que assim pensam.
Desconfiança

A percentagem de inquiridos que mencionam a desconfiança no sistema político em geral como motivo para não votar é a mais elevada em Chipre (28 por cento) e em Espanha (24 por cento) e a mais baixa na Finlândia (nove por cento). Em cinco países esta razão é a mais mencionada. Em Portugal, são 11 por cento os jovens que referem que esta é a razão para não irem votar.

São vários os jovens que acreditam que a União Europeia não trata suficientemente os problemas que lhes dizem respeito. Isto é referido por 27 por cento dos inquiridos no Luxemburgo (onde é a razão mais importante) e por 24 por cento na Áustria e em Malta, enquanto em Portugal esta razão é mencionada por apenas seis por cento dos entrevistados.

Não gostar de nenhum partido ou candidato político é uma razão para não votar para 24 por cento dos inquiridos em Chipre, em comparação com seis por cento na Finlândia. Para 12 por cento dos jovens portugueses, esta é a razão para não irem votar.

Refira-se que em Portugal a principal razão para os jovens não irem votar (25 por cento) é o facto de que desconheciam – na data deste inquérito – que se iam realizar eleições europeias.

Cinco por cento dos jovens portugueses dizem que não vão votar porque são contra a União Europeia e 11 por cento admitem que não o fazem porque não entendem o papel da União Europeia.
Participação em ações de mudança social
Cerca de um em cada dois (48 por cento) jovens europeus inquiridos afirmam ter tomado medidas para mudar a sociedade, como assinar uma petição, participar num comício ou enviar uma carta a um político. Isto só no último ano.


A percentagem global mais elevada é observada na Roménia (57 por cento), enquanto as mais baixas são encontradas em Chipre (31 por cento), no Luxemburgo (33 por cento) e na Suécia (34 por cento).

Portugal está a meio da tabela em linha com a média da União Europeia: 47 por cento dos jovens dizem que já o fizeram e 49 por cento que nunca o fizeram (quatro por cento não sabem).

Os jovens portugueses foram mais ativos nas questões dos direitos humanos (39 por cento), das mudanças climáticas e na proteção do ambiente (33 por cento), saúde e bem-estar (33 por cento) e igualdade de género, raça ou opção sexual (24 por cento).
Atividades noutro país da União Europeia
O inquérito evidenciou uma realidade: os jovens continuam a ter uma perspetiva europeia.

Mais de 43 por cento já participaram numa atividade noutro país da União Europeia – 52 por cento nunca o fizeram – como estudar ou treinar (16 por cento), ações de voluntariado (12 por cento) ou mesmo a trabalhar (12 por cento).

Estar envolvido em atividades culturais ou desportivas noutro país da União Europeia são as atividades em que os jovens têm maior probabilidade de ter participado em 16 Estados-membros (de 25 por cento na Bulgária a 12 por cento na Suécia). São 11 por cento os jovens portugueses que já estiveram nestas situações.

Estudar, receber formação ou fazer uma aprendizagem noutro país da União é a atividade mais mencionada em sete Estados-membros. Isto aplica-se a Chipre, Finlândia, França, Espanha, Itália, Malta. Em Portugal são 16 por cento.

Dez por cento dos portugueses que responderam a esta inquérito já estiveram envolvidos em ações de voluntariado noutro Estado-membro, 11 por cento já trabalharam noutro país e sete por cento dizem que já estiveram envolvidos em atividades políticas noutro país.

Cinquenta e nova por cento dos jovens portugueses nunca estiveram envolvidos em qualquer atividade noutro Estado-membro.

A maioria dos jovens que participaram em atividades da União Europeia afirmam que essas experiências aumentaram o seu conhecimento de outros países europeus. Portugal (47 por cento) junta-se a estes países no topo da classificação.

Quarenta e três por cento dizem que essa experiência aumentou o interesse por aprender outras línguas, 36 por cento que sentiram a sua autoconfiança aumentada e 45 por cento que ficaram a conhecer melhor os valores e a cultura de outros países, 42 por cento referem que aumentou o interesse em viver num desses países no futuro e 46 por cento referem que depois dessa vivência estão mais preparados para se adaptarem a situações futuras.

Trinta e um por cento dos jovens portugueses afirmam que ter estado noutro país os vai ajudar a fazer mais amigos no futuro e 27 por cento referem que ficaram mais interessados pelas questões europeias.

Vinte e quatro por cento garantem que as atividades que desenvolveram noutros Estados-membros fizeram com que se sentissem mais europeus.

Na maioria dos Estados-membros, a falta de meios financeiros é a razão mais comum para não participar em atividades noutro país da União. Mais de quatro em cada dez inquiridos na Finlândia (43 por cento), na Irlanda (43 por cento) e em Portugal (42 por cento) citam a falta de meios financeiros como motivo para não participarem em atividades noutro país da União Europeia. Em contrapartida, na Suécia, 21 por cento dos inquiridos afirmaram que não participaram em atividades noutro país da UE porque não dispunham de meios financeiros.

Na Áustria, Bélgica, Dinamarca, Malta, Países Baixos e Suécia, por outro lado, a razão predominante é a falta de interesse. Em Portugal apenas 22 por cento dos jovens dizem não ter interesse nestas experiências e são em igual número (22 por cento) os que dizem que tem falta de informação sobre estas oportunidades. Dezasseis por cento admitem que não se sentem suficientemente independentes para ir sozinhos para o estrangeiro por longos períodos e 12 por cento que não dominam uma língua estrangeira o suficiente. Dez por cento dizem que a família os desencoraja a sair do país mesmo para experiências temporárias.
A preparação, a formação e o ensino
Os jovens europeus sentiram que o sistema educativo os preparou bem para alguns dos desafios que enfrentam. Por exemplo, 73 por cento afirmaram que a educação que receberam lhes deu das competências digitais necessárias para identificar situações de desinformação.

Especificando - e no caso de Portugal -, 34 por cento concordam totalmente com a afirmação “A minha educação deu-me as competências digitais necessárias para identificar situações de desinformação”, enquanto 45 por cento tendem a concordar e 18 por cento não concordam.


Setenta e dois por cento dos jovens que responderem a este Eurobarómetro disseram que sua educação os ensinou a cuidar melhor meio ambiente.

São os jovens portugueses os que mais concordam que tiveram uma educação que os preparou para cuidar melhor do meio ambiente: 86 por cento.

Quarenta e seis por cento concordam totalmente com a afirmação “Aprendi a preocupar-me com o meio ambiente durante minha educação”, enquanto 40 por cento tendem a concordar e 13 por cento discordam desta afirmação.


Quase metade dos jovens inquiridos (49 por cento) afirmam estar cientes das oportunidades de financiamento oferecidas pelo Erasmus+, o programa da União Europeia para a educação, formação, juventude e desporto.

Além disso, 67 por cento dos jovens acreditam que a União Europeia tem um impacto, pelo menos até certo ponto, na sua vida quotidiana (são 69 por cento os jovens portugueses que assim pensam), enquanto 26 por cento dizem que não (23 por cento em Portugal).

Interagir com a União Europeia
As eleições europeias são a forma mais conhecida de interagir com a União Europeia em todos os Estados-membros, exceto em dois. As eleições europeias são escolhidas por uma pequena maioria de jovens na Grécia, Eslováquia, Portugal, Chipre e Alemanha (entre 52 e 56 por cento). Nos outros Estados-membros, a percentagem de inquiridos que têm conhecimento das eleições europeias como método de envolvimento varia entre 18 por cento no Luxemburgo e 50 por cento na Áustria.

Em 14 Estados-membros, votar nas eleições locais, nacionais ou europeias é considerado a ação mais eficaz para fazer com que a voz dos jovens seja ouvida pelos decisores. Uma pequena maioria dos inquiridos seleciona esta ação na Polónia (54 por cento) e em Portugal (51 por cento). Em contrapartida, um quarto dos inquiridos - ou menos - escolhe esta ação na Letónia (25 por cento), Malta (22 por cento) e Luxemburgo (19 por cento).

Em dez dos 27 países da União Europeia a participação nas redes sociais – através da expressão da sua opinião, da utilização de hashtags ou da alteração da fotografia do perfil – é considerada pela maior parte dos jovens como uma ação eficaz para fazer com que a voz da juventude seja ouvida pelos decisores. A percentagem dos que selecionam esta ação varia entre 18 por cento em Portugal (a percentagem mais baixa) e 42 por cento na Áustria.

Outros números mostram que em Portugal 35 por cento dos jovens admitem que participar em organizações de estudantes ou de juventude é uma das melhores formas de se fazer ouvir, 26 por cento acreditam que a suas ideias são tidas em conta se participarem em consultas públicas ou em iniciativas políticas e 34 por cento dizem que encontram esse eco se participarem em movimentos políticos, partidos ou sindicatos.

Em três Estados-membros, é mais provável que os jovens se mantenham informados sobre a União Europeia através da televisão: isto aplica-se a Portugal (61 por cento), Itália (59 por cento) e Eslovénia (54 por cento). Cinquenta e seis por cento dizem que é através das redes sociais e 36 através de podcasts e notícias em plataformas digitais.

Mais de um em cada cinco inquiridos mantém-se informado através de conversas com amigos, familiares ou colegas (29 por cento na média da União Europeia e 28 por cento em Portugal), via rádio (23 por cento na média da União Europeia e 16 por cento em Portugal) ou através da escola ou da universidade (23 por cento na média da União Europeia e 21 por cento em Portugal).

A imprensa escrita (por exemplo, jornais, revistas semanais ou mensais) é mencionada por 16 por cento dos entrevistados da União Europeia (18 por cento em Portugal).
Erasmus+
Na maioria dos Estados-Membros, o Erasmus+ para estudantes é a oportunidade mais conhecida financiada pela União Europeia para os jovens permanecerem noutro país da União.

A percentagem de jovens que conhecem o Erasmus+ para estudantes é a maior em Chipre e Portugal (ambos 65 por cento) e a menor na Suécia (26 por cento).

Apenas sete por cento dos jovens portugueses dizem conhecer as oportunidades de voluntariado financiadas pela União Europeia através do Corpo Europeu de Solidariedade e apenas dez por cento admitem ter conhecimento do DiscoveryEU o programa que permite aos jovens da União Europeia, aos 18 anos, viajar gratuitamente pela europa durante 30 dias.
Juventude e meio ambiente
Os resultados do inquérito destacam uma forte consciência ambiental entre os jovens cidadãos da União Europeia.

Cerca de dois terços dos entrevistados (66 por cento) concordam que estar num emprego que contribui para um ambiente melhor é importante para eles, pessoalmente. São 77 por cento os jovens que assim pensam em Portugal.


Em todos os Estados-membros, a maioria dos jovens "concorda totalmente" ou "tende a concordar" com a afirmação "Tento adaptar o meu estilo de vida para minimizar o meu impacto no ambiente". O nível total de concordância é mais elevado em Chipre (87 por cento) e no Luxemburgo (86 por cento). Portugal situa-se em quinto lugar da tabela com 84 por cento.


Da mesma forma, entre 83 por cento dos inquiridos na Roménia e 60 por cento na Suécia, no total, concordam com a afirmação “Eu considero a política ambiental de um partido antes de decidir como votar”. São 76 por cento os jovens que admitem esta reflexão em Portugal.

A saúde
Neste inquérito também se perguntou aos jovens europeus com que frequência fazem "exercícios", ou seja, qualquer forma de atividade física realizada num contexto desportivo, como natação, treino num centro de fitness ou num clube desportivo ou corrida no parque.

Cerca de oito em cada dez jovens inquiridos (81 por cento) afirmam praticar exercício físico pelo menos uma vez por semana. Mais especificamente, 40 por cento afirmam que praticam exercício físico duas a quatro vezes por semana, 21 por cento fazem-no mais de quatro vezes por semana e 20 por cento praticam exercício físico uma vez por semana. Um em cada sete jovens (14 por cento) pratica atividades desportivas menos de uma vez por semana.

Para os jovens portugueses as respostas recebidas permitem concluir que 23 por cento fazem exercício físico mais do que quatro vezes por semana (praticamente em linha com a média da União Europeia), 42 por cento fazem-no duas a quatro vezes, 16 por cento praticam uma atividade física pelo menos uma vez por semana.


Perto de um em cada dois jovens inquiridos em toda a União Europeia (46 por cento) respondeu que, nos últimos 12 meses, sofreu um problema emocional ou psicossocial (como sentir-se deprimido ou ansioso). Ao nível de cada país, este valor varia entre 11 por cento no Luxemburgo e 56 por cento em Chipre e na Lituânia. O Luxemburgo é acompanhado, no extremo inferior da classificação de países, pela Eslovénia (29 por cento) e Malta (30 por cento), enquanto os países próximos da Lituânia e de Chipre incluem a Chéquia e a Suécia (ambos com 55 por cento), bem como a Hungria (54 por cento).

Portugal é o sexto país na percentagem de jovens que admitem ter lidado com problemas emocionais ou de saúde mental: são 53 por cento os jovens que o admitem. 39% dizem que não se sentiram deprimidos ou ansiosos. Os restantes não sabem ou preferem não responder.

As mulheres jovens (55 por cento) têm maior probabilidade do que os homens jovens (38 por cento) de ter sofrido um problema emocional ou psicossocial nos últimos 12 meses. Os inquiridos mais velhos, por outro lado, são mais propensos a reportar não terem tido problemas emocionais ou psicossociais nos últimos 12 meses.

Por outro lado, os inquiridos com ensino pós-secundário ou superior (51 por cento) têm maior probabilidade de reportar não ter tido problemas emocionais ou psicossociais nos últimos 12 meses, em comparação com os inquiridos que concluíram o ensino secundário ou inferior (41 por cento).

E o futuro? O que esperam os jovens para a sua geração?
Os jovens também foram questionados sobre o que esperam da União Europeia para a sua geração.

As respostas mostram que, em primeiro lugar (37 por cento), está a preservação da paz, o reforço da segurança internacional e a promoção da cooperação internacional da União Europeia. Em Portugal são 39 por cento os jovens que indicam esta como a prioridade imediata da União.

As prioridades seguintes, no geral, são: combater a pobreza e as desigualdades económicas e sociais (para 34 por cento na média da União Europeia e para 40 por cento dos jovens portugueses que, aliás, escolhem esta como a principal prioridade para o futuro da União Europeia) e promover os Direitos Humanos, a democracia e os valores europeus comuns (30 por cento na União Europeia e 36 por cento em Portugal).

Os inquiridos defendem que é também importante aumentar as oportunidades de emprego para os jovens (28 por cento na média da União Europeia e 37 por cento em Portugal).

Cerca de um quarto dos jovens (26 por cento, a mesma percentagem em Portugal) esperam que a União promova políticas respeitadoras do ambiente e combata as alterações climáticas e cerca de um quinto (21 por cento) querem sociedades mais inclusivas no que se refere à igualdade de género e à luta contra a discriminação (são 22 por cento em Portugal os que referem esta prioridade).

É menos provável que os inquiridos esperem que a UE desempenhe um papel forte na resposta aos desafios de saúde (18 por cento em Portugal e 17 por cento na média europeia), reúna jovens de diferentes países (13 por cento em Portugal e 14 por cento na média da União) ou promova a digitalização da sociedade (13 por cento na média da União Europeia e dez por cento em Portugal).

Sobre o inquérito

O inquérito Flash Eurobarómetro "Juventude e Democracia" foi realizado entre 3 e 12 de abril de 2024, tendo como alvo uma amostra representativa de 26.189 jovens com idades compreendidas entre os 15 e os 30 anos nos 27 Estados-membros. A pesquisa foi realizada por meio de entrevistas na web assistidas por computador (CAWI).
Tópicos
pub